Publicado em 1963, A Cidade e os Cachorros (La ciudad y los perros) foi o primeiro romance de Mario Vargas Llosa e um marco da literatura latino-americana. A obra se passa em um colégio militar em Lima, no Peru, e acompanha a vida de um grupo de cadetes que enfrentam um ambiente brutal e repressivo. O título faz referência ao apelido que os alunos dão ao colégio, uma instituição que molda os jovens com métodos rígidos e violentos.
O livro explora a formação de identidade em um sistema que exige obediência cega e impõe regras baseadas na brutalidade e na hierarquia da força. A narrativa segue diferentes personagens, mostrando suas ambições, medos e estratégias para sobreviver nesse ambiente hostil. Entre eles, destaca-se o Jaguar, um jovem que lidera um grupo clandestino e impõe sua autoridade pela violência.
Com um estilo inovador e um uso magistral da multiplicidade de vozes narrativas, Vargas Llosa desmonta a ilusão do heroísmo militar e expõe as falhas da educação autoritária, revelando um sistema onde a opressão e a hipocrisia são as verdadeiras regras. A obra gerou grande polêmica em sua época e chegou a ser censurada no Peru, mas consolidou o autor como um dos principais nomes do chamado Boom Latino-americano.
Título em Português: A Cidade e os Cachorros
Autor: Mario Vargas Llosa
Ano de Publicação: 1963
Gênero Literário: Romance Social
Páginas: 376 páginas
Editora: Alfaguara (português)
Jaguar
O líder violento de um grupo clandestino dentro do colégio, representa a selvageria imposta pelo sistema.
Boa
Um jovem mais ingênuo que sofre com a brutalidade do ambiente militar.
Alberto "O Poeta"
Um cadete que se refugia na literatura e busca escapar do destino imposto pelo colégio.
Tenente Gamboa
Um oficial que tenta impor disciplina, mas também questiona os valores da instituição.
Ricardo "Esclavo"
Um jovem sensível e frágil, vítima frequente do bullying e da opressão.
Vargas Llosa inova ao utilizar uma narrativa fragmentada, com múltiplas perspectivas e mudanças de tempo. O livro apresenta monólogos internos, saltos temporais e diferentes vozes narrativas, criando um estilo que desafia o leitor a montar a história aos poucos.
A linguagem é crua e direta, refletindo a brutalidade do colégio e da sociedade peruana da época. O autor não poupa detalhes ao descrever a violência física e psicológica enfrentada pelos personagens.
O livro foi escrito em um período de grande instabilidade política no Peru e reflete as estruturas rígidas e autoritárias presentes não apenas nos colégios militares, mas em toda a sociedade. O autor denuncia a hipocrisia das instituições que, sob o pretexto de formar "homens de bem", acabam reproduzindo violência e injustiça.
A crítica de Vargas Llosa ultrapassa o contexto peruano e pode ser aplicada a qualquer sistema que prega disciplina extrema como justificativa para o abuso de poder. A obra foi um dos primeiros romances a questionar abertamente as estruturas militares e teve grande impacto na literatura latino-americana.
Ler A Cidade e os Cachorros foi uma experiência intensa e, por vezes, perturbadora. O que mais me impactou foi a forma como Vargas Llosa desmonta o mito da disciplina militar como algo nobre e necessário para a formação do caráter. O colégio, que deveria educar e preparar jovens para a vida adulta, se transforma em um espaço de brutalidade onde apenas os mais violentos conseguem sobreviver.
A dinâmica de poder dentro da instituição é construída de forma brilhante. O Jaguar, por exemplo, é um personagem fascinante porque representa o que o sistema espera dos cadetes: força, autoridade e ausência de compaixão. No entanto, sua violência não é apenas fruto de sua personalidade, mas da própria estrutura em que ele está inserido. Ele não nasceu um monstro, mas foi moldado para se tornar um.
Outro aspecto que me chamou atenção foi o contraste entre personagens como Alberto, o Poeta, e Ricardo, o Esclavo. Enquanto um tenta escapar através da literatura, o outro é esmagado pela pressão do colégio. Isso mostra como a opressão não afeta todos da mesma maneira – alguns encontram saídas, outros sucumbem.
Por fim, o livro nos obriga a refletir sobre até que ponto sistemas autoritários realmente cumprem sua função ou se apenas perpetuam a violência. O colégio não forma cidadãos melhores, apenas reforça um ciclo de brutalidade que se reproduz na sociedade. A história me fez pensar em como as instituições podem corromper valores e transformar jovens em adultos que perpetuam os mesmos abusos que sofreram.
Recomendo A Cidade e os Cachorros para quem gosta de narrativas densas, com críticas sociais afiadas e personagens complexos. É um livro que incomoda, mas também desperta reflexões fundamentais sobre poder, violência e identidade.
Se você gostou de A Cidade e os Cachorros, pode se interessar por:
1.O Apanhador no Campo de Centeio, de J.D. Salinger
Embora não seja uma crítica militar, também trata da juventude em conflito com sistemas repressivos.
2.O Senhor das Moscas, de William Golding
Um estudo brutal sobre a natureza humana e a violência, com um grupo de jovens em um ambiente sem regras.
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