Resumo da Obra
Publicado originalmente em 1899, Dom Casmurro é um dos romances mais célebres de Machado de Assis, combinando ironia, crítica social e uma profunda exploração da memória e da subjetividade. A narrativa acompanha Bento Santiago, mais conhecido como Dom Casmurro, um homem amargurado que decide escrever suas memórias para reconstruir os eventos de sua juventude e, principalmente, seu relacionamento com Capitu, sua grande paixão.
O romance se desenrola a partir da infância de Bentinho e Capitu, vizinhos que crescem juntos e desenvolvem um amor intenso. No entanto, Bentinho é obrigado pela mãe a entrar para o seminário, cumprindo uma promessa de que ele se tornaria padre. Com a ajuda do amigo Escobar, Bentinho consegue escapar dessa obrigação e, anos depois, casa-se com Capitu. A felicidade conjugal, no entanto, é abalada quando ele passa a suspeitar que Capitu o traiu com Escobar e que seu filho, Ezequiel, na verdade, não seria seu.
A dúvida sobre a fidelidade de Capitu é o grande mistério da obra. Narrado em primeira pessoa por Bentinho já na velhice, Dom Casmurro apresenta um protagonista tomado pelo ciúme e pela insegurança, tornando impossível determinar se sua versão dos fatos é confiável ou apenas uma construção de sua mente atormentada. Com uma escrita leve e irônica, o romance questiona a objetividade da memória e o papel das interpretações individuais na construção da realidade, tornando-se um dos maiores clássicos da literatura brasileira.
Título em Português: Dom Casmurro
Autor: Machado de Assis
Ano de Publicação: 1889
Gênero Literário: Romance
Páginas: 192 páginas
Editora: Garner (português)
Bentinho (Dom Casmurro)
O protagonista e narrador da história, Bento Santiago, mais conhecido como Dom Casmurro, é um homem solitário e amargurado que decide escrever suas memórias.
Capitu
Capitu (Capitolina) é a grande paixão de Bentinho e sua esposa. Desde a infância, é descrita como uma menina esperta, determinada e sedutora, com os famosos “olhos de ressaca”, que parecem esconder mistérios.
Escobar
Amigo de Bentinho desde o seminário, Escobar se torna um comerciante bem-sucedido e casa-se com Sancha, melhor amiga de Capitu.
Dona Glória
Mãe de Bentinho, é uma mulher religiosa e determinada, que deseja cumprir a promessa de dedicar o filho à Igreja. Mesmo amando profundamente Bentinho, ela tem grande influência sobre sua vida, sendo responsável por sua ida ao seminário.
José Dias
Agregado da família de Bentinho, José Dias é um personagem astuto e bajulador, sempre buscando manter-se próximo dos poderosos.
Ezequiel
Filho de Bentinho e Capitu, Ezequiel se torna o centro das suspeitas do protagonista, que acredita que ele seria, na verdade, filho de Escobar. No entanto, a narrativa nunca confirma essa hipótese, e o leitor fica preso à incerteza gerada pelo olhar subjetivo de Bentinho.
Dom Casmurro é um marco do realismo brasileiro e reflete o estilo maduro de Machado de Assis, caracterizado pela ironia, pessimismo e análise profunda da psicologia humana. A narrativa em primeira pessoa, conduzida por Bentinho, é subjetiva e fragmentada, levando o leitor a questionar a confiabilidade do narrador. O uso do discurso indireto livre permite que o autor explore os pensamentos do protagonista sem recorrer a explicações excessivas.
A linguagem é sofisticada, mas fluida, com períodos curtos e diretos que tornam a leitura dinâmica. Machado de Assis utiliza um tom reflexivo e sarcástico, com frequentes quebras da "quarta parede", onde Bentinho conversa diretamente com o leitor, antecipando possíveis questionamentos e manipulando a forma como os acontecimentos são interpretados. Essa característica torna Dom Casmurro uma obra moderna e aberta a múltiplas interpretações.
Publicado em 1899, Dom Casmurro reflete um Brasil que estava em transição da Monarquia para a República, com mudanças sociais e políticas significativas. A obra critica sutilmente a hipocrisia da elite brasileira, a rigidez dos valores patriarcais e o papel da mulher na sociedade.
A figura de Capitu representa a mulher que foge dos padrões da época, sendo independente e perspicaz, enquanto Bentinho incorpora a insegurança de um homem que se vê incapaz de controlar sua esposa. O ciúme e o medo da traição podem ser interpretados como reflexos de uma sociedade que valorizava a honra masculina acima de tudo.
Além disso, Machado de Assis, um homem negro que ascendeu socialmente em um Brasil recém-saído da escravidão, usa sua ironia fina para expor as contradições da sociedade da época, como a influência da Igreja, o poder da família sobre os indivíduos e a falsidade das relações sociais.
Assim, Dom Casmurro vai além de um simples romance sobre ciúme e traição, sendo uma obra atemporal que questiona a memória, a verdade e a forma como construímos nossas próprias narrativas.
Ler Dom Casmurro foi uma experiência instigante e inquietante. A escrita de Machado de Assis é sutil e afiada, conduzindo o leitor por um labirinto psicológico onde a dúvida se torna mais importante do que a verdade. O livro me prendeu do início ao fim, não apenas pela trama em si, mas pela forma como a história é contada — um jogo entre memória, obsessão e a fragilidade das certezas humanas.
O que mais me impressionou foi a construção de Bentinho como narrador. Sua voz é persuasiva, melancólica e, ao mesmo tempo, profundamente tendenciosa. A maneira como ele relata sua infância, seu amor por Capitu e sua crescente desconfiança é carregada de emoção, mas também de contradições. Ao longo da leitura, não pude deixar de me perguntar: estaria ele contando a verdade ou apenas criando uma versão conveniente dos fatos? Esse caráter ambíguo do romance é o que o torna tão fascinante e atemporal.
Outro ponto que me marcou foi a complexidade de Capitu. Desde o início, ela se destaca como uma personagem forte, inteligente e independente, uma mulher que desafia os papéis impostos pela sociedade de sua época. No entanto, como toda a história é filtrada pelo olhar ciumento e ressentido de Bentinho, nunca sabemos quem ela realmente é. Capitu é culpada ou vítima? O romance nos convida a desconfiar de nosso próprio julgamento, pois, assim como Bentinho distorce sua lembrança, nós também podemos estar sendo manipulados por sua narrativa.
Além disso, Dom Casmurro não é apenas um drama pessoal, mas também uma crítica sutil à sociedade brasileira do século XIX. Machado de Assis expõe, com sua ironia característica, a hipocrisia das relações sociais, o peso das tradições e o quanto as convenções podem aprisionar os indivíduos. A obsessão de Bentinho por controlar Capitu reflete uma sociedade que sempre tentou definir e limitar o papel da mulher, e sua paranoia pode ser vista como um reflexo do medo masculino diante da autonomia feminina.
Por fim, Dom Casmurro é uma leitura que provoca e permanece na mente muito depois da última página. É um livro que nos obriga a questionar a confiabilidade das narrativas — tanto as que ouvimos quanto as que contamos a nós mesmos. Recomendo a todos que apreciam romances psicológicos e histórias que nos deixam com mais perguntas do que respostas, nos desafiando a ler (e reler) com um olhar cada vez mais atento.
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